Mulheres - é o nosso dia
Joana era credora do mundo.
No dia em que completou quarenta anos morando na casa dos pais, aceitou que morreria sozinha.
Não que fosse feia ou não soubesse conversar, mas, não me pergunte porque, até aquela idade nunca tinha tido alguém.
Tudo bem, se você contar o Isaque como sério só porque, entre idas e vindas, conviveram por quase um ano, ainda que ele nunca tenha assumido a relação, então Joana só teve um namorado: o Isaque.
Mas isso foi há 5 anos, era mais nova, e , coitada, cheia dessas ilusões que as meninas de hoje tem.
Foi em uma madrugada de sábado que ele a deixou e sumiu. Melhor assim! Se estivessem juntos, seria mais uma a engrossar as estatísticas de infelizes.
Acreditar que namoraria, casaria, teria filhos e, bingo: seria feliz? Santa ingenuidade…
Ou será que é exagero dizer que o número de separações aumenta todos os dias e muitos dos que se mantém casados o fazem por comodidade?
Você acha que o risco de, ao amar, não ser correspondido ou, pior, ser traído depois, justifica a tentativa?
Não!- dizia Joana - melhor ficar como estou porque, além de tudo, poupo lá na frente uma criança de sofrer.
Enquanto Joana pensava, o barulho de gente lá fora misturava com os sons típicos do domingo no bairro: carros chegando com visitas, crianças correndo na praça, rádios inconvenientes…
Quase duas da tarde e o povo já quer festa! Será que não tem nada de útil para fazer? Vivem como se a vida durasse para sempre, como se merecesse comemoração, como se valesse a pena.
Um jovem casal toca a campanhia da vizinha.
Esses dois… - resmunga Joana- depois que o William casou vem duas vezes por mês encher a paciência da Dna Mercedes. Já não teve que aguentar a vida inteira, agora tem que ser simpática para a Rose só porque é sua nora.
Olha lá! Quanta hipocrisia, beijinho, sorrisinhos… Por isso eu digo, melhor ficar sozinha ! Assim evito minha família de constrangimentos, tendo que ficar fazendo política com genro a vida toda.
Será que as pessoas não percebem? Só procuram umas as outras por fraqueza e convenção social. Quem não casa é mal falado. Até político é atacado agora por adversária porque não tem filhos! Faça-me o favor… por isso eu digo sempre: Eu quero é morrer sozinha, fazendo o que der na mente e na hora em que quiser.
Melhor ser mal falada do que ficar chorando por causa de homem, deus que me livre! Prefiro o meu canto, meus livros, meu quarto, minha cama… trrrrimmmm
Telefone em pleno domingo?
Os pais tinham saído, o jeito era sair da janela e atender ao maldito telefone antes que arrebente de tocar.
trrrrimmmmm….
Eita povo chato! Se ligam para a casa dos outros em pleno domingo é porque ninguém se respeita mais….trriimmmm….
-Alô!- atendeu rispidamente
Silêncio do outro lado.
- Alô! – mais ríspida ainda.
- Oi.- alguém vacilante responde.
- Oi o que? Quem ta falando?
- Joana?
- Quem é?
- É a Joana?
- Caramba , quer me irritar no domingo ta conseguindo ! Sou eu sim, quem é ?
- Sou eu… o Isaque.
Silêncio.
- Alô?
- Isaque?
- Desculpa Joana, pensei o dia inteiro. Na verdade tenho pensado há cinco anos e acho que temos muito a conversar…
Ela fica muda.
- Você está me ouvindo? ele pergunta.
- To.- com um restinho de voz.
- Você pode desligar o telefone agora em minha cara, vou entender e nunca mais te ligar. Mas quero que saiba que há cinco anos eu me perdi. Achei que o caminho de sempre me levaria para onde sempre quis mas, me perdi. Nesse tempo tentei remontar as pecinhas do quebra cabeça da minha vida, fiz de tudo para encontrar por onde seguir e, a estrada sempre passava por você. Sinto sua falta e quero muito te ver.
Ela ainda está quieta. Isaque continua:
- E quero que seja hoje. Preciso pegar o caminho certo, sentir que estou voltando pra casa.
Joana respira, fecha os olhos, engole seco e diz :
- Daqui uma hora na praça do por do sol?
- Estarei lá.
Joana, pernas bambas, respiração ofegante, pensamento e coração disparados vai até a mesa, pega a chave da porta e segue em direção ao por do sol.
Enquanto caminhava, nem percebia que os barulhos tinham mudado e o cenário típico de domingo parecia feliz.
Talvez a madrugada de sábado tenha terminado.
Talvez, fosse domingo de novo
Esta estória é um conto de Flávio Siqueira, um criador.
O conheci através de uma postagem de vídeo no blog da Licca e tive que visitar o seu site e conhecer melhor o seu trabalho e o seu talento.
Escolhi este conto para finalizar esta série de postagens sobre Mulheres de Valor, pois vejo a necessidade, hoje mais do que ontem, de olharmos a vida com outros olhos, se para todos independente de ser homem ou mulher a pressão é muito grande, para a mulher de nossos dias tem sido extremamente desgastante, principalmente porque a mulher ainda está engatinhando no que se diz respeito a dominar e controlar suas emoções.
Se por um lado a realidade nos apresenta de uma forma, onde muita das vezes nos perdemos em nossa estrutura, devemos aprender a olhar esta realidade com os olhos da fé, não a fé que as pessoas confundem com esperança, mas a fé bíblica, que chama a existência o que não existe.
Vamos abraçar com toda garra e força inerente em nós mulheres para:
Vivermos um dia por vez,
Aceitarmos que pelo fato de sermos feitura do Senhor obra criada por suas mãos, temos tudo para dar certo
E compreendermos que não estamos sozinhas, pois Aquele que começou a boa obra em nós a de completá-la.
Se por um lado temos um batalhão de fatos e argumentos que nos impulsiona a desistir, a viver murmurando, a viver sem expectativas de um futuro melhor.
Por outro lado temos todo um Exército a nosso favor, nos impulsionando a continuar.
Lembre-se, ainda é muito cedo para desistir.
FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER
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